quarta-feira, 25 de maio de 2011

MEU AMIGO DO SÍTIO SARACURA - Antônio de Dezi.



(Mandado   para publicação, mas não foi)

Quando tia Dezi ficou viúva, muito nova - nem tinha 25 anos de idade - veio morar na Terra Vermelha. Não pôde ficar nos Macacos, interior de Simão Dias, na fazenda do sogro, onde seus filhos nasceram. Não lhe sobrava nenhum espaço dentro do casarão da fazenda. O choro dos meninos pequenos incomodavam muito mais do que devia. Sem alternativa, trouxe os filhos (Josélia, José Augusto, Antonio e José Carlos) e acomodou-se  em um pequeno sítio, quase no oitão do sítio Saracura, onde eu vivia.  Dessa forma, os três meninos machos, todos do meu tope,  passaram  a ser  meus companheiros de brincadeira.

Tia Dezi dedicou o resto de sua vida aos filhos. Não quis saber de novo casamento, recusando todas as propostas. Mamãe, que era muito ligada a ela,  e sempre foi direta nos objetivos, perguntou-lhe um dia, por que não aceitava casar de novo. Era tão nova, tão bonita!

- Você não tem desejo de deitar com homem?- atacou.

Tia Dezi arrepiou-se. Olhou para mamãe como quem renega uma abelhuda. Mas respondeu, singelamente, que tinha sim, pois era mulher como as outras:

- Vontade  é como coceira. Se você não coça, passa.

Antônio, que tinha a minha idade, foi sempre mais ligado a mim. E ficou mais ligado ainda  depois, quando casou com uma das minhas irmãs, Bernardete. E, mais ainda, quando o casal passou a morar no sítio Saracura, pois meu  pai resolvera mudar sua tropa para Aracaju.

O sítio ainda hoje pertence ao casal, de onde tira o sustento, trabalhando na agricultura e criando algumas  reses. Eu vou sempre lá e trago, dependendo da época, saborosas melancias, batatas peidonas, aipins cozinhadores ou arrobas de inhame inigualáveis. Não pago um tostão, mas  pagaria o quanto cobrassem, porque não existe nada melhor do que o que se produz naquele sítio abençoado. Haja vista nós.

Antonio continua um bom companheiro e exerce certa liderança entre os moradores da Terra Vermelha. Cheio de graça, tem uma piada nova para divertir cada rodinha aonde chega. E tira, com os mais conhecidos e que sabe gostarem, uma lera de sacanagem, que deixa um rastro de risos até uma hora depois.

Esta verve é própria  do povo simples dos sítios. Acho!  Pelo menos é onde eu vejo afluir com mais intensidade. Os  saracuras, salvo algumas exceções,   são todos espirituosos. Tio Chico (Chico de Pepedo Saracura), que faleceu o ano passado com mais de oitenta anos,  sempre tinha uma piada curta para contar,  uma saída espirituosa para cada engasgo. Tio Homero, que era  dos troncos dos Ferreiros (nada a ver som os saracuras) era  cheio de ditos, pegadinhas infames. Os Peixotos,que nem são meus parentes,  não perdem uma oportunidade de gozarem da cara do incauto, contarem uma piada ferina ou armarem tretas.  

Antonio, agora, tem 65 anos e sua esposa (minha irmã) me disse que ele está  ficando broco: Esqueceu o tanque de óleo do trator sem a tampa  em três  das cinco vezes que completou o óleo. Foi fechar os “aspersores” que jogavam água nas melancias novas e voltou para casa com um pé de aipim  na cabeça.  A água continuou jorrando a noite toda e embebedou  a lavoura.  Pegou as chaves do sítio no prego da casa de rancho e as colocou no bolso das calças. Em seguida, sem motivo muito claro, trocou de calça, jogando a usada no cesto de roupas sujas. Montou na moto e foi para o sítio. Meia hora depois, retornou à cidade para  buscar as chaves reservas, alegando que o bolso da calça furara e, mostrou o buraquinho por onde, segundo ele,  as chaves haviam escapado.
Ao  encontrá-lo, dias depois,   perguntei-lhe  se era verdade o que minha irmã  me dissera, de ele estar ficando broco. Arregalou os olhos:
- Sua irmã é quem está broca. Você sabia que o primeiro sintoma do broco é espalhar que outra pessoa (esposo, amigos) está ficando?

E agora?

Pelas minhas contas, ambos estavam espalhando. E até eu estou também. Já se viu uma coisa dessas?

“Este Antônio de Dezi
Vive em Terra Vermelha
Um povoado de gente
Que não olha a vida alheia
Não tem medo de trabalho
Nem também de cara feia”





2 comentários:

  1. Olá, Antonio Saracura! Bom saber que você possui também um espaço entre os blogs!
    Abraços!

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  2. Olá amigo. Ainda me perco muito nestes blogs, faces etc.
    Fiz um blog para cada livro e mais este (antoniosaracura.blogspot.com)para armazenar os livrinhos de versos. Mas nunca mais atualizei. Os outros (para guardar avaliações) são:
    minhaqueridaaracajujaflita.blogspot.com
    meninosquenaoqueriamserpadres.blogspot.com
    afjsaracura.blogspot.com (tabareus)

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