quarta-feira, 25 de maio de 2011

Irmã Terezinha – Uma visita ao Lar Cidade de Deus

Irmã Terezinha – Uma visita ao Lar Cidade de Deus

(Enviado para publicação em jornal)

Estava em Itabaiana e fui, acompanhado por compadre Castelo, meu cunhado e caminhoneiro aposentado, ao Lar Cidade de Deus. Ele tem uma irmã internada lá. Tinha também um sobrinho meio perturbado, filho da tal irmã, mas começou a bater nos velhos. Dava cascudos, murros à traição e até fez ameaça a irmã Terezinha, a gerente. Castelo teve que correr lá, uma boca de noite, retirar o valentão e interná-lo num abrigo próprio para pessoas mais dificultosas.

Era começo da noite e os sessenta e oito internos tinham acabado de jantar. Alguns estavam no salão assistindo televisão e outros zanzando a toa, aqui e acolá, ou sentados à porta de seus apartamentos, corujando a nossa visita. Eu já fora lá duas ou três vezes. Mas estava necessitando de algumas informações para compor um livrinho de versos, dentro do meu objetivo de contar a história das pessoas de Itabaiana que me marcaram, chamaram minha atenção pelo seu comportamento, atividade, ou fosse lá o que fosse. E irmã Terezinha era uma dessas pessoas. Sem contar que nascera em Terra Vermelha, onde eu nasci também,  o que muito me envaidece.

Encontrei irmã Terezinha na farmácia, entregando comprimidos a uma das internas.  Pouco depois, estávamos sentados em um duro banco, ela respondendo a minhas perguntas, contando sua história   e sua lida. A história, em parte, eu  conhecia. Pelo menos no que se referia a seus pais. João Borges era irmão de minhas tias tortas,  Iaiá de tio Pedro e Sinhá de tio João.  E fora muito ligado a papai, e sempre estava no sítio Saracura,  pois ambos eram carreiros e mexiam com gado. Eu me lembrava de quando sua esposa Maria (a mãe de irmã Terezinha), filha de Zezé e de Otília, foi embora para São Paulo. Deixou os filhos pequenos na casa de Otília dizendo que ia até Itabaiana fazer uma consulta. Só voltou muitos anos depois, trazendo novos irmãos para os que deixara em Terra Vermelha.

Irmã Terezinha (Tereza  Teles de Menezes) falava com alguma dificuldade, convalescia  de uma enfermidade que quase lhe tirara a vida.

Estudou o primário em Terra Vermelha, inicialmente com dona Zinha, depois no Grupo do povoado. Tirou o secundário no Murilo Braga, em Itabaiana. Está com  sessenta anos de idade. Não é mais  freira, pois pediu licença para cuidar do asilo. Pertencia  a ordem Franciscana Missionária de Nossa Senhora, fundada na França mas que tem atua no mundo todo.  Está no Lar Cidade de Deus desde 2003 quando o padre Carlos Alberto (hoje bispo de Teixeira de Freitas) inaugurou a instituição.  Antes trabalhou no Hospital de Itabaiana, por dez anos. Dedica-se integralmente aos seus velhinhos.

O Lar Cidade de Deus pertence à Ação Social da paróquia de Santo Antônio e Almas de Itabaiana. A capacidade de hospedagem é de 72 internos.  É mantida pela aposentadoria dos velhinhos internados, contribuições espontâneas da população, subvenções da  Assembleia Legislativa do Estado, rendas de feijoadas, forrós, sorteios de rifas...  Um comitê de católicos administra o Lar, e é formado (atualmente) por Josias Peixoto,  Samuel do Prontolab, Fernando de João Inácio, Professora Magnólia, Emília do finado Milete, entre outros. De dois em dois anos esse Comitê é substituído. Uma equipe médica dá assistência local, e se o caso for grave, o doente é levado para Aracaju, pagando-se as consultas, exames e o que for preciso. Padre Raul Borges é o assistente espiritual e todo domingo  celebra a missa na cidade de Deus.



As instalações são compostas por  seis pavilhões de dormitórios, cada um com seis quartos  e cada quarto podendo acomodar até três internos. Todos os quartos são suíte, isto é, tem banheiro.  Há ainda um salão de festas (ou de recreio), capela, refeitórios, lavanderia, garagem, almoxarifado e  farmácia. O terreno tem 13 tarefas, sendo que 10 são separadas por muro, isto é, estão fora do núcleo construído. É lá que  irmã Terezinha cria duas vacas de leite. Tem 20 empregados, fora eventuais voluntários, que acorrem, especialmente, nos eventos.


Pessoas como essa irmã
Num mundo tão insensível
É uma graça a celebrar
Uma mudança de nível
Engrandece qualquer povo
Faz o velho ficar novo
E o impossível, possível.








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